Manuel Graça Dias - Arquitecto, criador, professor, comunicador

Faleceu no domingo 24 de Março o arquitecto Manuel Graça Dias, após doença prolongada, com 66 anos incompletos.

Pediu-me a Presidência da Faculdade que escrevesse algumas palavras em sua homenagem. Aqui seguem - do colega, mas também do amigo, que sou desde os anos de 1970.

Diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1977, foi professor assistente em Projecto na Faculdade de Arquitectura da UTL no período de 1985-1996.

Preparava a sua tese de doutoramento, sobre o fulcral tema do ensino na Arquitectura, tendo como orientador o prof. Alexandre Alves Costa, quando viu lamentavelmente rejeitada a sua proposta pelos responsáveis científicos de então na FA, razão da sua saída em 1996.

Este facto, constituindo uma irreparável perda de valor para a FAUTL, que nele contava com um dos mais promissores docentes, não impediu a sua longa e qualificada carreira no ensino, que logo desenvolveu noutras escolas de arquitectura, doutorando-se em 2009 e sendo actualmente Professor Associado (FAUP) e Catedrático (UAL).

O seu talento exprimiu-se ao longo das décadas de um modo multiforme, impressionante de vigor, originalidade, irreverência e brilho: como criador de arquitectura, com Egas José Vieira (ex.: Pavilhão de Portugal na Expo de Sevilha, 1992; Teatro Azul/Joaquim Benite, Almada, 2005; Teatro Luís de Camões, Lisboa, 2018), como radialista e realizador de programas de televisão (Ver Artes, RTP, 1992-96 e TSF, 1995-99); Como autor e editor de livros, artigos e textos de investigação e crítica de arquitectura (ex.:  revistas Arquitectura Portuguesa, 1984-88, e Jornal dos Arquitectos, 2000-2004, 2009-12; Vida Moderna, 1992; Ao Volante pela Cidade, 1999; O Homem que Gostava de Cidades, 2001, Manual das Cidades, 2006); e ainda como cenógafo, cinéfilo, ou designer.

O Manuel Graça Dias era uma grande, uma enorme personalidade, tão amigo e generoso como polémico e mediático – em suma, um criador nato: diverso, íntegro, completo, único.

E personalidade com uma “joie de vivre” inigualável - expressa num sentido de humor explosivo, irreprimível, desconcertante, a um tempo oportuno e cáustico, mas igualmente optimista e esplêndido – a todos envolvendo com a marca do ser livre que sempre foi. 

Cumpre hoje à nossa Faculdade, que o perdeu infelizmente há muitos anos, enaltecer a sua figura e obra.

José Manuel Fernandes, docente da FAUL